terça-feira, 8 de março de 2016

Projeto Brincar de Correr # Ascort

BRINCAR DE CORRER: A esperança de um mundo melhor no Esporte
Seg, 28 de Dezembro de 2015 00:01


Cerca de 100 jovens entre 10 e 20 anos participam do projeto

O esporte é um instrumento pedagógico excelente para ocupar a mente e desenvolver o corpo. Pena que o Brasil ainda precisa avançar muito nesse sentido. A sorte é que somos brasileiros... e não desistimos nunca.

Por Maiara Raupp
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A prática de esportes não é apenas um símbolo de cuidado com a saúde, mas sim uma ferramenta de integração e inclusão social. Durante a prática esportiva, crianças e jovens aprendem muito mais que as técnicas que envolvem o esporte. Aprendem a ter respeito pelas regras e pelos outros jogadores, agregam o entendimento, o convívio com o coletivo, a resoluções de conflitos, o esforço e a responsabilidade.

Enquanto em países desenvolvidos educação e esportes caminham lado a lado, sendo considerados igualmente fundamentais na formação de uma criança e de um adolescente, no Brasil vemos o contrário. Jovens têm que optar por seguir um dos dois caminhos.

Conciliar a vida de atleta e estudante não é uma tarefa fácil. Ainda mais quando o cenário em questão é o Brasil. A falta de incentivo e de políticas públicas esportivas faz com que alguns atletas brasileiros deixem o seu país de origem e busquem novas oportunidades.

Referência mundial para os atletas que não abrem mão da vida estudantil, os Estados Unidos adotam uma política integrada entre universidades e esportes. Muitas instituições no país oferecem bolsas de até 100% para alunos que se dedicam a praticar alguma modalidade esportiva, independente da intenção de seguir a carreira profissional ou não. Além disso, os EUA são tidos também como referência de estrutura para a prática de esportes, o que facilita a vida dos que têm esse tipo de interesse em seguir a carreira na área do desporto.

Como não estamos nos Estados Unidos e somos brasileiros que não desistimos nunca, nos resta incentivar crianças e jovens a praticar esportes nas condições que temos e podemos, com a esperança de um mundo melhor. Foi com esse intuito que surgiu em Torres, há mais de quatro anos, o projeto Brincar de Correr, que hoje atende cerca de 100 crianças e adolescentes entre 10 e 20 anos da comunidade torrense.
 
Força de vontade move moinhos
É em meio à rua, com terreno irregular, carros circulando, de baixo de chuva ou de sol intenso, se deslocando a pé ou de bicicleta, de pés descalços ou com tênis impróprios para corrida e muita força de vontade, que quase 50 crianças treinam no mínimo três vezes por semana no projeto 'Brincar de Correr', criado pelo educador físico Cláudio Freitas juntamente com Antônio Rodrigues e Sargento Teixeira.
Os treinos ocorrem na Lagoa do Violão, na praia e no condomínio Morada das Palmeiras. Além de focar na inclusão social, hoje o projeto conta com vários atletas de alto rendimento. Neste último ano, dois atletas foram campeões estaduais, além de outros que conquistaram medalhas em estaduais e obtiveram qualificações em competições de nível nacional realizadas pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).

“Isso mostra a força que temos. O principal objetivo do Brincar de Correr é a inclusão social, a valorização da saúde, a formação de cidadãos, mas os resultados que temos obtido têm demonstrado que podemos ir ainda mais longe”, observou Cláudio, que também é professor de atletismo, federado pela CBAt.

Busca incessante por apoio
Hoje o projeto se sustenta com auxílio de voluntários e de parcerias. “Os custos com inscrições nas competições e viagens são pagos por parceiros do projeto, principalmente do comércio torrense. Temos o apoio forte da Carioca Calçados, que nos ajuda também com os prêmios para as rifas, uniformes e com tênis para a maioria dos atletas. Agora a batalha é conseguir apoiadores para auxiliar financeiramente estes jovens de alto rendimento. Eles podem levar o nome da cidade muito longe ainda”, afirmou Cláudio, acrescentando ainda que para esses atletas ele já conseguiu a parceria de profissionais de massoterapia, fisioterapia e quiropraxia.
“É uma correria e uma dedicação sem tamanho. Mas o que me motiva a fazer esse trabalho é ver o sorriso no rosto. A felicidade. A realização. Todo o esforço de ir atrás de apoio, patrocínios, uniformes, vender rifas, treiná-las quase que diariamente, vale à pena”, disse Cláudio emocionado.
 

Sorriso no rosto das crianças é o que encanta e motiva a continuar
Os melhores do RS participam do projeto
A ideia inicial era formar cidadãos de bem e inseri-los na sociedade, mas, o projeto foi além disso, formou atletas que hoje apresentam um alto rendimento. É o caso de Winderson Vinicius Malinski, um jovem de 17 anos, morador do bairro São Jorge. Criado apenas pela mãe, Winderson é um menino tímido, mas que tem muita força de vontade e a passada mais comprida e rápida que eu já vi.
Moreno, como é popularmente conhecido, está entre os 20 melhores do Brasil. Um feito extraordinário para um garoto que treina no meio da rua, sem estrutura e ajuda financeira nenhuma. Ele garantiu em setembro a 19° posição no 1500m no Campeonato Brasileiro Caixa de Atletismo de Menores Interclubes, realizado em São Bernardo do Campo (SP). O evento reuniu cerca de 738 atletas de 103 clubes de todas as regiões do país, contando com os melhores atletas do Brasil até os 17 anos. E lá estava ele, competindo lado a lado com atletas profissionais, que possuem locais adequados para treinar e auxílios financeiros. Além dele, representaram nosso município Andriws Matheus, Lucas Sousa, José Daniel e Emily Bandeira.

Winderson, que concilia estudos e treinamento, tem liderado as competições estaduais em sua categoria, e municipais inclusive em categorias acima de sua faixa etária. Hoje a volta mais rápida da Lagoa do Violão é dele, estabelecendo um novo recorde.

Hoje o jovem realiza um sonho de criança, que era ser medalhista. “Eu sempre tinha vontade de ganhar uma medalha e no futebol eu não conseguia. Então resolvi participar de uma corrida porque ganhava medalha nem que fosse de participação. Hoje não consigo mais parar de correr”, disse Moreno, que iniciou no projeto há dois anos.

O jovem contou ainda que quer correr o resto da vida e ganhar ainda muitas medalhas. “As dificuldades são muitas. Tem o cansaço, as dores, o desgaste, a falta de incentivo, de auxílio e local adequado. Mas o que me faz sair de casa pra treinar é porque quero representar bem Torres. Quero ser campeão gaúcho. Ser medalhista olímpico. Quero ser lembrado. Quero fazer história”, garantiu ele timidamente.
 

Mesmo diante de todas as dificuldades, Moreno está entre os melhores do Brasil 
Falando em Olimpíadas...
Como todos já sabem, em 2016 será realizado no Brasil os Jogos Olímpicos. Mas e será que as Olimpíadas são mesmo brasileiras? De acordo com o professor Luiz Francisco Maggi, o Brasil está longe de pertencer a essas Olimpíadas. “Os jogos olímpicos serão no Brasil, mas não são do Brasil. Os ingressos possuem preços altíssimos que apenas uma minoria de brasileiros pode pagar. Não se tem auxílio ao esporte. Empresas que patrocinam em sua maioria não são brasileiras. Grande parte dos telespectadores não é brasileira. No fim das contas a influência que as olimpíadas vai causar gera um rendimento pra pouquíssimas pessoas”, defendeu o professor.
Luiz Francisco faz ainda uma reflexão com relação à quantidade de atletas que hoje chegam a uma Olimpíada. “Hoje são milhões de atletas que sonham em chegar a uma Olimpíada. Dos que participam, uma minoria ganha medalhas. Na minha avaliação, o grande fundamento do esporte não é chegar às Olimpíadas e ser campeão. Mas sim os princípios que só o esporte pode permitir como resiliência, respeito ao próximo, aos seus limites, dedicação, persistência, estilo de vida mais saudável, um futuro mais promissor”, afirmou ele, acrescentando ainda que o difícil é fazer as pessoas enxergarem isso.

“Será que só esses que são premiados que valem à pena. Ou um grupo de crianças carentes que estão querendo ser alguém melhor não vale? As pessoas só vêem isso como despesa e não como investimento. Se eles não forem medalhistas olímpicos, vão ser pessoas melhores e isso é um grande feito. Eles poderão sonhar com um futuro melhor. Ter mais esperança”, destacou o professor. Luiz disse ainda que as pessoas precisam entender que uma das poucas alternativas para se salvar uma geração, que está praticamente perdida, é a oportunidade no esporte. “O esporte talvez seja o único elo que se tem entre os gostos dessa geração e a possibilidade de torná-los cidadãos melhores, com princípios humanos. Quando vemos alguns meninos com pouca estrutura, treinando no meio da rua, conseguindo disputar frente a frente com atletas remunerados, com boas estruturas, percebemos que a força de vontade é essencial”, completou o professor, que ajuda no projeto voluntariamente.

O educador ressaltou ainda que esse tipo de esporte depende apenas do esforço deles. “Se tu correr e for melhor, você vai ganhar. Diferente do futebol que às vezes precisa ter um empresário, um olheiro. O principal adversário não são os outros concorrentes, mas sim não desanimar perante todas as adversidades que se tem. Isso que apaixona no esporte”, concluiu Luiz FranciscoP

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